Compliance – PREVENÇÃO I

Defino o termo ambição como um forte desejo de se alcançar determinados fins. De acordo com este conceito, posso assumir que todos nós somos ambiciosos. Todos, de alguma forma pensamos no futuro, elaboramos projetos e trabalhamos com dedicação na sua execução. A ambição é parte inerente da estrutura psíquica e emocional do ser humano.

Ambição, embora geralmente tenha uma conotação negativa, não é necessariamente algo ruim. No meu entendimento, ao contrário, talvez seja o dynamus da maioria esmagadora das realizações humanas. Uma pessoa sem ambições, sem aspirações, sem o desejo de realizar, ou é alguém que se encontra acomodado, ou, talvez, num estágio mais avançado, muito provavelmente seja uma pessoa que já entregou os pontos e se encontra num processo acelerado de falência múltipla de neurônios e sinapses. Não consigo imaginar que alguém com este tipo de patologia realize algo desafiador.

Se por um lado a ambição é positiva, não permitindo o comodismo e impulsionando à realização, por outro ela pode se tornar profundamente maléfica se não for controlada por uma boa consciência.

 

No ambiente empresarial os profissionais são motivados por diferentes tipos de ambição.

 

A título de exemplo vou mencionar apenas três categorias que considero mais comuns: a ambição financeira, por poder e por status. Reforço o ponto que a ambição nestas áreas não é intrinsicamente má. O fundamental é saber diagnosticar quando elas podem ameaçar o lado positivo e começar a se inclinar para o negativo. Dependendo da concentração e dosagem, um remédio salvador pode se transformar em veneno mortal.

Nos meus artigos iniciais tratei da relação inescapável entre compliance e consciência e ressaltei a importância absoluta do desenvolvimento de uma consciência saudável, uma vez que, em última instância, as nossas ambições serão limitadas e controladas por ela. A consciência será o juiz das nossas intenções. Se uma determinada intenção for por ela aprovada, naturalmente será transformada em ação. A esta altura estamos prontos para fazer a ligação com o primeiro aspecto do pilar da prevenção que quero destacar: a conscientização!

É preciso investir fortemente em programas de conscientização que produzam e sedimentem uma cultura alinhada com valores e princípios elevados, que fortaleçam a convicção de que a virtude vale a pena, que mobilizem toda a equipe na direção da ética, da honestidade, do engajamento e comprometimento com aqueles valores e princípios. De nada vai adiantar uma cartilha muito bem escrita, um belo código de conduta ética, se o conteúdo ficar apenas em suas páginas ou em quadros pendurados nas paredes dos corredores e salas dos trabalhadores.

É fundamental que o conteúdo do programa de compliance seja internalizado e impregnado na mente de cada pessoa individualmente. É preciso que haja uma transferência efetiva de conteúdo dos documentos formais do programa para a consciência de cada profissional da organização. Essa transferência não acontece de forma automática, por osmose, com a simples divulgação de documentos, códigos de conduta, manuais do sistema de gestão, jornais internos, intranet ou outdoors. Sem uma energia concentrada e reforçada de tempos em tempos, o que está escrito pode se perder na correria do dia a dia e não se materializar na determinação inabalável de se agir em conformidade com aqueles valores e princípios.

Prevenir é muito melhor e menos custoso do que remediar! Prevenir é antes de tudo desenvolver consciências saudáveis, sensíveis e resistentes à qualquer desvio de conduta. Consciências que conheçam os limites do bom comportamento e reprovem sem hesitar, bem no nascedouro, qualquer intenção desconectada da ética, dos valores e princípios da organização. Cada empresa precisa investir energia e recursos num projeto de conscientização que seja mais efetivo e adequado à sua cultura.

 

Autor: Jedaias Jorge Salum – Engenheiro Mecânico pela PUC-MG, com pós-graduação em Tecnologia de Obtenção de Celulose pela USP/IPT/ABTCP e MBA em Gestão Empresarial pela FGV Belo Horizonte. Atuou por mais de 34 anos na Cenibra, empresa do setor de papel e celulose, nos últimos 7 anos como Assessor da Presidência, responsável pelo Planejamento Estratégico, Comunicação Corporativa, Relações Institucionais, Gestão de Compliance, coordenador do Comitê de Sustentabilidade, do Comitê de Compliance e Gestão de Riscos e das Reuniões da Diretoria. Atuou na área comercial por 14 anos, tendo assumindo inicialmente a gestão da assistência técnica aos clientes, em seguida a Gerência Comercial, encerrando esta passagem como Gerente de Marketing e Assistência Técnica da empresa. Iniciou as atividades na Cenibra em 1982 como Engenheiro Projetista, tendo desenvolvido e implantado vários projetos industriais de aumento da capacidade produtiva. Em 1989 assumiu a Gerência do projeto da área de Recuperação e Utilidades da duplicação da fábrica. Iniciou sua carreira profissional na área de projetos mecânicos da Usiminas, onde trabalhou como projetista por mais de seis anos.