Impacto de programas de compliance e integridade nas iniciativas de Sustentabilidade

A Griscom participou nos últimos dias 22 e 23 de maio da Conferência Global sobre Normas de Sustentabilidade organizado pelo ISEAL ALLIANCE que é referência internacional para aqueles que trabalham com a elaboração e implementação de normas e certificações de sustentabilidade confiáveis.

Durante o evento nossa sócia diretora, Rosemary Vianna, conversou com alguns palestrantes e teve a oportunidade de entrevistar a Dra Áurea Nardelli que atua como Certification Manager e Technical Advisor do RSB – Roundtable on Sustainable Biomaterials, sendo o RSB membro do ISEAL ALLIANCE. Áurea é Doutora em Engenharia Florestal, com mais de 20 anos de experiência em sustentabilidade, silvicultura, agricultura e manejo de recursos naturais e sólida experiência em pesquisa ecológica, sistemas de gestão ambiental e sistemas de certificação.  Buscamos conhecer a posição da Dra. Áurea Nardelli sobre as contribuições do avanço dos Programas de Compliance e Integridade sobre as Iniciativas e Compromissos de Sustentabilidade das Organizações.


Rosemary: Esta evolução de “programas de conformidade e integridade” contribui para os objetivos de Iniciativas e Compromissos de Sustentabilidade das empresas?

Áurea: Acredito que tais programas são parte inerente da sustentabilidade. Conhecer os requisitos legais aplicáveis às suas atividades e garantir seu cumprimento em todos os níveis de uma organização constitui um Princípio fundamental em diversos padrões de sustentabilidade, independente do setor ou dos produtos abrangidos por esses padrões. Por exemplo, no padrão da RSB – Roundtable on Sustainable Biomaterials, o Principio 1  requer que “As Operações devem cumprir com todas as leis e regulamentos nacionais aplicáveis, bem como com as leis e acordos internacionais relevantes para as operações”. Um dos requisitos mínimos para as organizações que queiram cumprir com esse critério é ter um sistema que garanta a proibição de qualquer forma de suborno, conflito de interesse e práticas fraudulentas; o padrão requer que esse sistema inclua uma política documentada e treinamento adequado ao pessoal para o seu cumprimento.

 

Rosemary: Até que ponto? As contribuições podem ser sentidas nos objetivos finais dos Programas de Sustentabilidade?

Áurea: Sim, tanto direta como indiretamente. No primeiro caso, sendo ferramenta para redução de riscos e de não-conformidades, como também criando meios para que os desvios em relação às leis e regulamentos relevantes sejam detectados e corrigidos precocemente. E indiretamente, criando uma  cultura de integridade, em que os valores dos Programas de sustentabilidade sejam respeitados e defendidos, que todos na organização possam ter seu comportamento balizado pela ética, responsabilidade e profissionalismo (ex. no relacionamento com as agências de controle ambiental, nas negociações com stakeholders, nos processos de consulta e comunicação com comunidades locais, no tratamento com os trabalhadores, entre outros).

 

Rosemary : Alguns desafios históricos de sustentabilidade podem ser resolvidos ou minimizados com o avanço e a consolidação dos Programas de Compliance e Integridade?

Áurea: Em alguns setores ou regiões, a credibilidade dos documentos e registros de conformidade legal ou procedimental são questionáveis. Por mais que exista um documento válido e reconhecido, os processos envolvidos na sua obtenção podem ser sido fraudulentos ou envoltos por uma série de conflitos de interesse. Para um auditor de sistemas voluntários  de certificação de sustentabilidade, pode se tornar difícil questionar a legitimidade de tais processos, uma vez que extrapolam o escopo de uma auditoria. A existência de um Programa de Compliance & Integrity implementado pode fornecer garantias adicionais à conformidade legal e ao cumprimento das políticas de sustentabilidade de uma organização, tornando um programa de Sustentabilidade muito mais robusto.

 

Rosemary: Como as partes interessadas podem se beneficiar dos resultados dos Programas de Compliance e Integridade?

Áurea: a sociedade como um todo se beneficia. A cultura da ética, da honestidade, da colaboração e da transparência  deve ser cada vez mais fortalecida, bem como as experiências bem-sucedidas devem ser divulgadas para incentivar sua continuidade e novas iniciativas. As organizações podem ser um ponto de partida para fomentar essa cultura nos negócios, ao colocar na prática seu programa em todos os níveis de relacionamento com seus stakeholders.

 

Rosemary: Como as partes interessadas podem contribuir para o fortalecimento desses Programas de Integridade?

Áurea: a participação ativa dos stakeholders é um dos pontos fortes dos padrões de sustentabilidade. As partes interessadas são chamadas a participar em diversos momentos e devem ser adequadamente ouvidas. No caso da certificação RSB, há uma primeira consulta antes de qualquer passo em direção à certificação, quando uma organização interessada em participar da RSB realiza o seu registro inicial. Nessa primeira etapa, as partes interessadas podem se manifestar e contribuir com informações a respeito da integridade e capacidade da organização em atender aos compromissos estabelecidos pelos padrões de sustentabilidade. Em um segundo momento, há a consulta às partes interessadas, realizadas pelas certificadoras antes e durante as auditorias. E por fim, há um canal continuamente aberto para receber qualquer comentário, reclamação, sugestão ou denúncia vinda de partes interessadas ou afetadas por uma dada operação. Os stakeholders podem trazer contribuições importantes, sob um outro ponto de vista, agregando informações, demandas e ajudando a identificar novas riscos que porventura não tenham sido identificados internamente. Eles também poderão ser indicadores de quão transparente e abrangente é o programa de Integridade e de sustentabilidade de uma empresa (por exemplo, se o programa alcança todos os trabalhadores, fornecedores, prestadores de serviços, organizações locais etc).