Compliance – Prevenção III

Empowerment, do discurso à prática! Dizer que não queremos o “yes man” é uma coisa. Acolher os questionadores com empatia é outra bem diferente. Minha proposição é que saiamos da cômoda retórica do discurso vazio para árdua prática cotidiana, de fato!

Não há nada mais desanimador e desencorajador do que interromper a participação de alguém em uma reunião, apresentando mil desculpas e inúmeras explicações para detonar uma sugestão no nascedouro. Por exemplo, dizer que aquilo já foi tentado no passado e não deu certo, que é utopia, que custa muito caro, que não há recursos humanos disponíveis, entre outras desculpas tão comuns no dia a dia das empresas. Agir assim é retirar das pessoas o sentimento de pertencimento, a percepção de que a opinião delas é importante, é destruir a autoestima e a iniciativa, é reduzir pessoas a impotentes coadjuvantes. Em outras palavras, é retirar delas todo e qualquer sentimento de poder!

Uma coisa é dizer que queremos que as pessoas se manifestem e exponham suas opiniões, que façam suas críticas e sugestões com total liberdade. Outra, bem diferente, é que estas mesmas pessoas se sintam à vontade e valorizadas ao participar. Para que isto se torne realidade, elas precisam ser acolhidas com a devida atenção, precisam perceber que suas contribuições foram efetivamente consideradas, estudadas, que promoveram movimentos e desdobramentos e, por último, é fundamental que elas recebam um retorno adequado e em tempo hábil.

Depois de treinar pessoas a reconhecer com humildade suas próprias limitações para então buscar apoio e aconselhamento, depois de treiná-las e estimulá-las a uma sensibilidade mais aguda para o que acontece à sua volta e tendo encorajado o desenvolvimento, no bom sentido, da perspicácia e sagacidade, estas pessoas precisam agora ser empoderadas com a devida confiança e energia para agir de forma livre e desimpedida. As organizações precisam se preparar para receber o feedback daqueles que foram treinados a observar atentamente qualquer sinal de perigo e dar a atenção que elas esperam para suas sugestões, observações, suspeitas, críticas ou denúncias. Engavetar é desencorajar. Ouvir e não agir é desestimular. Pessoas desencorajadas não farão o que poderiam e deveriam fazer nas próximas oportunidades.

Como, então, empoderar? Paradigmas precisam ser quebrados e a cultura organizacional talvez precise de uma renovação. Aí vão algumas dicas muito práticas: Respostas padrão devem ser sumariamente eliminadas e, até mesmo, proibidas; As contribuições, colaborações, críticas, suspeitas e sugestões precisam ser analisadas em profundidade; Feedbacks superficiais, que dizem claramente ao colaborador que sua contribuição não foi considerada seriamente, precisam ser evitados a todo custo; Uma investigação isenta tem que ser conduzida, independentemente do nível hierárquico que estiver implicado; Os responsáveis por aprofundar a análise e investigação de toda e qualquer contribuição precisam de autonomia e da devida segurança de que poderão trabalhar com total liberdade nos seus casos; A organização precisa se dispor a mudanças, mesmo aquelas que parecem sem grande importância,  fortalecendo o instituto da colaboração voluntária e espontânea.

Concomitantemente a estas iniciativas tão simples, objetivas e muito práticas, todos devem ser estimulados à vigilância contínua. Primeiramente, cada um cuidando individual e disciplinadamente de si mesmo; depois, tendo observado que o seu próprio comportamento está plenamente alinhado à ética,  valores e princípios da organização, que dirijam seus olhares aos que estão ao seu redor, ajudando, estimulando e encorajando a boa conduta, alertando para os riscos de desvios ao menor sinal suspeito e, finalmente, em casos extremos, encaminhando denúncias pelos canais disponíveis.

Empowerment só é possível num ambiente de liberdade, respeito e consideração!

 

Autor: Jedaias Jorge Salum – Engenheiro Mecânico pela PUC-MG, com pós-graduação em Tecnologia de Obtenção de Celulose pela USP/IPT/ABTCP e MBA em Gestão Empresarial pela FGV Belo Horizonte. Atuou por mais de 34 anos na Cenibra, empresa do setor de papel e celulose, nos últimos 7 anos como Assessor da Presidência, responsável pelo Planejamento Estratégico, Comunicação Corporativa, Relações Institucionais, Gestão de Compliance, coordenador do Comitê de Sustentabilidade, do Comitê de Compliance e Gestão de Riscos e das Reuniões da Diretoria. Atuou na área comercial por 14 anos, tendo assumindo inicialmente a gestão da assistência técnica aos clientes, em seguida a Gerência Comercial, encerrando esta passagem como Gerente de Marketing e Assistência Técnica da empresa. Iniciou as atividades na Cenibra em 1982 como Engenheiro Projetista, tendo desenvolvido e implantado vários projetos industriais de aumento da capacidade produtiva. Em 1989 assumiu a Gerência do projeto da área de Recuperação e Utilidades da duplicação da fábrica. Iniciou sua carreira profissional na área de projetos mecânicos da Usiminas, onde trabalhou como projetista por mais de seis anos.