Compliance – Detecção – Parte VI

No meu último artigo abordei dois pilares imprescindíveis para a efetividade de um canal de denúncia: primeiro, o sigilo das informações e preservação do anonimato do denunciante; o segundo, a tratativa séria e profunda, conduzida dentro do prazo estabelecido no respectivo plano de ação.

Feedback, o terceiro sustentáculo, igualmente importante para o fechamento, com chave de ouro, do processo de qualquer denúncia, é o tema desta reflexão.

Por que dar feedback? No meu entendimento, por dois grandes motivos: primeiro, pela transparência, pois os fatos podem ser colocados claramente, na medida certa, eliminando-se, com isso, versões falaciosas; segundo, aproveitar a oportunidade para o aprendizado e amadurecimento da organização como um todo. Sem qualquer tipo de feedback, a natural e desencorajadora consequência é que denunciante e integrantes da própria organização fiquem com a sensação de que nada foi feito e ainda de que a organização não leva a sério as denúncias que recebe.

Há diferentes formas de se dar feedback e, quanto a sua divulgação, poderá ser ampla ou restrita. Tudo dependerá da amplitude de conhecimento dos fatos dentro e fora da organização, da abrangência e aplicabilidade em cada caso e dos objetivos pretendidos com a divulgação.

 

É preciso distinguir entre formas e meios de divulgação, havendo muitas e diferentes alternativas, tanto para elas quanto para eles.

 

Neste momento, vou me ater a duas formas básicas: uma objetiva, do tipo “Direto ao ponto” ou “Dando nomes aos bois!” e outra sutil, do tipo “Para quem sabe ler, um pingo é letra!”.

Janeiro de 2018 foi marcado pelo julgamento, em segunda instância, de um ex-presidente da República, fato inédito em nossa história. Por se tratar de alguém extremamente popular, pelo fato deste julgamento acontecer em ano eleitoral e do réu ser um potencial candidato à Presidência da República nas eleições do final do ano, tal julgamento teve ampla cobertura de toda a mídia nacional e toda a população do país pôde, de alguma forma, acompanhar todos os seus detalhes. Este é um exemplo extremo de divulgação objetiva dos resultados de um amplo e longo processo de investigação e apuração dos fatos de uma (no caso, de muitas) denúncia. Neste exemplo, além da transparência e acesso à informação, o feedback se prestou ainda ao amadurecimento do país em diferentes aspectos e esferas.

Feedback, no âmbito corporativo, não se trata de transmissão ao vivo de qualquer parte do processo, mas de se dar publicidade aos fatos, aos resultados das investigações e eventuais ações corretivas adotadas, além das medidas preventivas definidas dali para frente. Isso pode ser feito por meios formais como um Compliance News, via intranet e jornal interno, ou informais, como palestras e apresentações para grupos selecionados. O fundamental é destacar os pontos relevantes de aprendizado. Esta é a forma direta e objetiva a ser adotada, observadas as circunstâncias, peculiaridades e abrangência da denúncia.

A outra forma é aquela mais sutil, na qual a mensagem é passada de forma indireta, de maneira figurada, por parábolas, nas entrelinhas, citando casos de terceiros ou, até mesmo, contando uma história de casos hipotéticos. Esta forma me parece mais apropriada quando os fatos da denúncia não são de amplo conhecimento e não há necessidade de se expor pessoas. Mesmo assim, não se deve perder a oportunidade do amadurecimento e crescimento corporativo, enfatizando e aplicando, de maneira contextualizada, lições preciosas para a reputação e sustentabilidade da organização. Para isso, portanto, pode-se utilizar os mesmos meios de divulgação adotados na forma direta e objetiva.

Meu alerta final é que, na maioria dos casos, a falta de feedback é a pior das escolhas. Se não houver uma divulgação oficial, uma versão informal circulará pela organização e produzirá efeitos, quase sempre maléficos e destrutivos.

 

quer ler os outros post dessa série:

Compliance e Detecção – Parte I

Compliance e Detecção – Parte II

 

Autor: Jedaias Jorge Salum – Engenheiro Mecânico pela PUC-MG, com pós-graduação em Tecnologia de Obtenção de Celulose pela USP/IPT/ABTCP e MBA em Gestão Empresarial pela FGV Belo Horizonte. Atuou por mais de 34 anos na Cenibra, empresa do setor de papel e celulose, nos últimos 7 anos como Assessor da Presidência, responsável pelo Planejamento Estratégico, Comunicação Corporativa, Relações Institucionais, Gestão de Compliance, coordenador do Comitê de Sustentabilidade, do Comitê de Compliance e Gestão de Riscos e das Reuniões da Diretoria. Atuou na área comercial por 14 anos, tendo assumindo inicialmente a gestão da assistência técnica aos clientes, em seguida a Gerência Comercial, encerrando esta passagem como Gerente de Marketing e Assistência Técnica da empresa. Iniciou as atividades na Cenibra em 1982 como Engenheiro Projetista, tendo desenvolvido e implantado vários projetos industriais de aumento da capacidade produtiva. Em 1989 assumiu a Gerência do projeto da área de Recuperação e Utilidades da duplicação da fábrica. Iniciou sua carreira profissional na área de projetos mecânicos da Usiminas, onde trabalhou como projetista por mais de seis anos.